A Coleção
7 - Adoniran Barbosa
Informações Técnicas:
- Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
- Páginas: 64 páginas
- Capa: dura e revestida em papel couchê
- CD: 14 faixas por CD
Veja o repertório:
- TIRO AO ÁLVARO - Elis Regina e Adoniran Barbosa (1980)
- SAUDOSA MALOCA - Demônios da Garoa (1955)
- PROVA DE CARINHO - Vânia Carvalho e Adoniran Barbosa (1980)
- IRACEMA - Clara Nunes e Adoniran Barbosa (1980)
- TREM DAS ONZE - Demônios da Garoa (1990)
- DESPEJO NA FAVELA - Gonzaguinha e Adoniran Barbosa (1980)
- BOM DIA, TRISTEZA - Sylvia Telles (1958)
- AGUENTA A MÃO, JOÃO - Djavan e Adoniran Barbosa (1980)
- SAMBA DO ARNESTO - Demônios da Garoa (1955)
- AS MARIPOSAS - Os Originais do Samba (1975)
- TORRESMO À MILANESA - Clementina de Jesus, Carlinhos Vergueiro e Adoniran Barbosa (1980)
- VILA ESPERANÇA - Adoniran Barbosa (1980)
- SAMBA ITALIANO - Adoniran Barbosa (1975)
- MULHER, PATRÃO E CACHAÇA - Adoniran Barbosa (1975)
Ao contrário do que se possa imaginar, o compositor de "Iracema" nunca teve nenhum relacionamento com uma mulher com este nome. Ler no jornal a notícia de uma mulher que morrera atropelada na Avenida São João, foi o bastante para que Adoniran Barbosa se inspirasse a compor a canção.
Como João Rubinato, seu nome de batismo, o compositor nasceu na cidade de Valinhos em 1910. De lá, se mudou para Jundiaí, cidade onde trabalhou ainda menino ajudando o pai no serviço de cargas em vagões.
Tempos depois, quando sua família decide ir para Santo André, passa por diversos empregos. Entre eles entregador de marmitas, pintor, encanador, serralheiro, todos de origem simples. Posteriormente estas experiências foram inseridas em suas composições ou nas caracterizações de seus personagens. "A rua foi a minha escola", dizia o compositor.
Trabalhando como vendedor, em uma loja na rua 25 de março, resolve se arriscar apresentando-se em diversos programas de calouros da época. Sem sucesso. Já tendo adotado o nome Adoniran Barbosa, persiste e se dá bem cantando "Filosofia", de Noel Rosa, no programa de Jorge Amaral.
Foi depois de um convite do cantor Paraguaçu, para cantar em um programa semanal de 15 minutos, que Adoniran compôs sua primeira marchinha, "Dona Boa", do maestro J. Alimbere. A marcha faturou o primeiro lugar no concurso de músicas carnavalescas promovido pela Prefeitura de São Paulo.
Tornando-se cada vez mais conhecido, Adoniran foi ganhando espaço e oportunidade para mostrar seus talentos. Trabalhou na Rádio Cruzeiro do sul de 1935 a 1940. No ano seguinte foi para a Rádio Record, onde fez radioteatro, numa série chamada "Serões Domingueiros".
O programa "Casa Da Sogra", de Osvaldo Moles, foi o primeiro a abrir as portas e dar o pontapé inicial para as diversas interpretações de Adoniran. Em seus personagens, como Zé Cunversa, ele usava uma linguagem popular, coloquial, fazendo com que fossem bem aceitos pelas classes menos favorecidas da época.
Como humorista, Adoniran destaca-se com o personagem "Charutinho", criado pelo produtor Osvaldo Moles, no programa História das Malocas. Nessa época, Adoniran continuava escrevendo músicas e, ao lado do amigo e parceiro no humor, compõe "Tiro ao Álvaro" e "Pafúncia".
Adoniran, no entanto, não se contentou com o sucesso do rádio e da TV. O compositor também atuou no cinemas em filmes nacionais como "Pif-Paf" (1945), de Ademar Gonzaga, "Caídos do Céu" (1946), dirigido por Luís de Barros, e "O Cangaceiro"(1953), de Lima Barreto.
Com o devido reconhecimento no humor, Adoniran sentiu o mesmo em sua carreira na música quando se encontrou com os rapazes do Demônios da Garoa, em 1951. Firmada a parceria, o conjunto gravou as canções "Malvina" e "Joga a Chave", ambas de sua autoria, que foram premiadas em mais um concurso carnavalesco.
Foi então que os sambas "Saudosa Maloca" e "Samba do Arnesto" consagram Adoniran como o compositor mais fiel ao retratar o cotidiano da paulicéia. "De vez em quando eu faço sambas na rua andando", disse à época. Era de São Paulo, por suas ruas e avenidas, que o compositor tirava sua inspiração.
Como se precisasse mostrar mais ainda seu talento e afeição pela cidade, Adoniran compõe em 1964, aquele que seria o seu maior sucesso. A música "Trem das Onze", interpretada novamente por Demônios da Garoa, se eternizaria como Hino da cidade de São Paulo.
Paralelo ao seu sucesso como compositor, Adoniran volta a se dedicar novamente a televisão. Passa a atuar em programas humorísticos como "Ceará Contra 007" e "Papai Sabe Nada", da TV Record. Fez ainda participações especiais em novelas como "Mulheres de Areia e "Inocentes".
Em 1974 lançou o seu primeiro disco individual. Seguido por mais um, pela Odeon, e o último com a participação especial de diversos interpretes, entre eles Djavan, Clara Nunes e Elis Regina. As músicas "Viaduto Santa Efigênia", "Praça da Sé" e "Minha nega" fazem parte deste LP.
Apesar de seu grande sucesso e reconhecimento, Adoniran não deixou fortunas. Deixou apenas "uma residência em São Paulo, uma aposentadoria de 60 mil cruzeiros e a quantia de 60 mil cruzeiros por trimestre, referente a direitos autorias". Sua segunda mulher, Matilde Luttif, com quem se casou em 1949, ficou viúva no dia 23 de novembro de 1972.
Contexto Histórico
Filho de imigrantes italianos, seus pais saíram direto de Veneza e foram para Valinhos. Nascido em 1910, o compositor veio a morar definitivamente em São Paulo em 1932, época que coincidiu com a Revolução contra Getúlio.
Apesar dos conflitos contra o atual presidente, o Brasil vivia a época áurea do Rádio, contribuindo assim para que Adoniran firmasse sua carreira popular entre as massas. Foi somente a partir de 1955, que o país começa a se abrir para o seu processo de industrialização.
Com o presidente Juscelino Kubitschek (1955-1960) e seu "Plano de Metas", começa a surgir no Brasil um forte desenvolvimento de norte a sul. Surgia a velocidade, com o automóvel, e o visual, com a televisão. Mesmo seguindo firme no rádio, a TV começa a ocupar cada vez mais o seu espaço.
Foi nessa época em que o autor compôs as primeiras linhas de "Progresso". Em seguida, começa a surgir a onda do iê-iê-iê, com novas vozes e novos sonhos. Em resposta, o músico compõe o samba "Rua dos Gusmões".
Adoniran acompanhou de perto o crescimento da cidade de São Paulo, entre uma composição e outra, se dividia entre o inevitável progresso e a nostalgia dos velhos tempos.
Após a década de 60, o compositor afirmou que não conhecia mais a cidade onde morou. "O Brás, cadê o Brás? E o Bexiga, cadê? Mandaram-me procurar a Sé. Não achei. Só vejo carros e cimento armado."
Curiosidades
Rubi o que?
Para Adoniran, João Rubinato não era nome de sambista. Acreditando nisso, foi que decidiu adotar o primeiro nome de um amigo boêmio. O sobrenome adquiriu em homenagem ao sambista Luís Barbosa.
Menos um
O compositor costumava dizer que aprendeu matemática com a vida. Ainda criança, aos 12 anos, trabalhou como entregador de marmitas. Pelo caminho, quando a fome dava sinal, surrupiava alguns bolinhos da marmita. Se havia oito, pegava dois, sobrando seis para o cliente, se quatro: um a três; e se fossem dois: um para cada.
Safo
Quando se mudou para Santo André, em meio às diversas profissões que exerceu, foi também garçom na casa do então ministro da Guerra Pandiá Calógeras. Ao ir até a residência, foi questionado pela filha de Pandiá se já havia trabalhado como garçom em algum lugar. Adoniran mentiu. "Já sim senhora, mas já faz tanto tempo que já esqueci como é".
1º Lugar
Quando ganhou o concurso organizado pela Prefeitura de São Paulo com a marchinha carnavalesca "Dona Boa", em parceria com J. Aimberê e interpretada por Januário de Oliveira, Adoniram recebeu 300 mil réis do total de 500 para o vencedor. Segundo o compositor, "cerveja vai, cerveja vem" quase acabou ficando sem o dinheiro.
Língua Portuguesa
Adoniran tinha plena consciência de que suas músicas não seguiam uma linha gramatical correta. No entanto, isso não era nem de longe sua maior preocupação. "Pra escrevê uma boa letra de samba a gente tem que sê em primeiro lugá anarfabeto", dizia.
Nem tudo são flores
O grande sucesso de Adoniran não condizia com sua situação financeira.. Sua segunda mulher Matilde é quem explicava melhor à época. "Acontece que a gente era muito pobre, porque ninguém fazia shows como hoje. Ele só cantava em circo e de vez em quando no Cine-Teatro Colombo lá no Brás, ou no Coliseu, no Largo do Arouche". Um de seus sambas, "Tocar na Banda" (1965), retratava bem esse momento. "Tocar na banda pra ganhar o quê? Duas maviolas e um cigarro Iolanda".