A Coleção

1 - Noel Rosa

1 - Noel Rosa

Informações Técnicas:

  • Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
  • Páginas: 64 páginas
  • Capa: dura e revestida em papel couchê
  • CD: 14 faixas por CD

Veja o repertório:

  1. FEITIO DE ORAÇÃO - Sílvio Caldas
  2. SÉCULO DO PROGRESSO - Aracy de Almeida
  3. PRA QUE MENTIR? - Paulinho da Viola
  4. O X DO PROBLEMA - Aracy de Almeida
  5. CONVERSA DE BOTEQUIM - Moreira da Silva
  6. QUEM DÁ MAIS - Noel Rosa
  7. PALPITE INFELIZ - Aracy de Almeida
  8. NUVEM QUE PASSOU - Francisco Alves
  9. NÃO TEM TRADUÇÃO - João Nogueira
  10. MULATO BAMBA - Mário Reis
  11. FEITIÇO DA VILA - João Petra de Barros
  12. COM QUE ROUPA? - Noel Rosa
  13. DAMA DO CABARÉ - Orlando Silva
  14. O ORVALHO VEM CAINDO - Almirante e os Diabos do Céu

Foram cerca de 200 composições em apenas 26 anos, quatro meses e 23 dias de uma vida curta, mas de intensa produção artística. Noel de Medeiros Rosa, nascido e criado no bairro de Vila Isabel, subúrbio do Rio de Janeiro, entre 1929, quando começou a compor, e 1937, quando faleceu vítima da Tuberculose, foi um dos responsáveis pelo que hoje representa o samba para a arte brasileira.

O aclamado "Poeta da Vila" e "Filósofo do Samba" subiu o morro e trouxe para a "cidade a música nascida nos quintais dos imigrantes afro-baianos, que formavam o Rio do início do século XX. O samba se legitimava como gênero musical e deixava de lado o estigma de música feita apenas para negros. O malandro vira boêmio e as letras se transformam em crônicas do Rio de Janeiro dos anos 20 e 30. "Ninguém o superou na legitimidade de sua poesia", afirmou Carlos Heitor Cony, em artigo na Folha, em 1964.

Amante dos botequins, da noite e da boemia, o que aliados à sua já fragilidade física - nasceu de um parto a fórceps, o que provocou afundamento do maxilar e paralisia na face, prejudicando sua alimentação - Noel Rosa poderia ter sido médico, mas preferiu ser sambista. Envolvidos com a música, o pai, o comerciante Manuel de Medeiros Rosa, que tocava violão, e a mãe, a professora Martha Azevedo, no bandolim, foram decisivos para adentrar o então adolescente Noel, com 13 anos, na arte de tocar.

Começou no bandolim, mas foi no violão que encontrou seu talento.

A música para Noel Rosa, apelidado de Queixinho na escola, foi também uma forma de compensar as restrições que lhe causavam a deficiência na face. Em 1925, com 14 anos, já fazia serenatas junto com irmão Hélio Rosa, quatro anos mais novo, e começava a abusar do álcool, do cigarro e das farras. Em declaração à imprensa da época, confessou: "A menina do lado cravava em mim uns olhos rasgados de assombro. Então eu me sentia completamente importante. Ao bandolim confiava, sem reservas, os meus desencantos e sonhos de garoto que começava a espiar a vida".

Iniciou sua carreira compondo canções com inspirações nordestinas, entre emboladas e cateretês, no grupo Flor do Tempo, que depois passou a se chamar Bando dos Tangarás. O conjunto era forma por ele e outros nomes da música na época: Almirante, Braguinha (João de Barro), Alvinho e Henrique Brito. Contudo, foi no samba que Noel consolidou sua arte. Em 1931, compôs seu primeiro grande sucesso, o samba "Com que roupa?", sucesso no Carnaval daquele ano.

Canções como "Palpite Infeliz", "Com que Roupa", "Último Desejo", "Fita Amarela", "O Orvalho Vem Caindo", "Até Amanhã", "Três Apitos", "O X do Problema", "João Ninguém", "Quem Ri Melhor", "Dama do Cabaré", "Quando o Samba Acabou", "Conversa de Botequim", "Feitio do Oração", "Feitiço da Vila", "Cem Mil Réis", ele compôs sozinho e com mais de 50 parceiros. Dois deles se sobressaem: Ismael Silva e Vadico. Duas cantoras também foram destaques na interpretação de suas canções: Marília Baptista e Aracy de Almeida.

Em dezembro de 2010, Noel Rosa faria 100 anos. Morreu cedo, mas deixou um legado que influenciou e continua influenciando as gerações posteriores de músicos, como Tom Jobim e Chico Buarque.

Contexto histórico

Quando Noel Rosa começou a compor, no fim da década de 20, o samba carioca dava os primeiros passos rumo ao status de gênero representante da identidade musical brasileira. Saído das festas de fundo de quintal nas casas das tias baianas, nos arredores da nova cidade que começava a ser "reconstruída" pelo governo, o samba ainda guardava características que o deixavam à margem da sociedade que se dizia civilizada: era feito por negros, marcado pelo improviso, fazia apologia à malandragem e era dotado de sentido lúdico-religioso.

Da periferia do novo Centro carioca e dos morros que começavam a ser ocupados pelo povo expulso da área brotavam os primeiros compositores do samba , como Sinhô, Donga, João da Baiana e Pixinguinha. Os bares e cabarés da cidade recebiam as primeiras apresentações, ainda sob perseguição da polícia. Noel Rosa, influenciado pelos sambistas do morro, foi um dos responsáveis pela inserção definitiva do samba na cidade. O impulso dado pelo rádio também foi de grande importância. Ao lado de nomes da música como Orestes Barbosa, Nássara, Mário Lago e Ary Barroso, Noel participou do grupo de compositores responsáveis pelo novo padrão estético do samba.

O momento, no início da década de 30, coincidiu com a política de valorização da cultura brasileira promovida pelo governo do presidente Getúlio Vargas. Em 1931, surgiu o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), que estabelecida regras para os artistas e reforçava a censura a produções que atentassem contra a ordem estabelecida. Essa política nacionalista acabou beneficiando a nascente produção da música popular brasileira, liderada pelo samba.

De acordo com dados levantados por Zuza Homem de Melo e Jairo Severiano, em "A Canção no Tempo", entre 1931 a 1940, o samba tornou-se o gênero mais gravado, ocupando 32,45% do repertório gravado em disco.

Curiosidades

Música e Medicina

Noel Rosa cursou, em 1931, um ano da faculdade de Medicina, beneficiado por um decreto que permitiu a entrada de estudantes na faculdade. Por influência do curso, compôs a música "Coração", cujos versos dizem: "Coração, grande órgão propulsor/ transformador do sangue venoso em arterial; coração, não és sentimental; mas entretanto dizem que és o cofre da paixão."

Restrições físicas

Por causa do defeito no maxilar, resultado de seu parto complicado, geralmente não comia em público. O desencontro das arcadas dentárias e a articulação insuficiente do queixo forçavam Noel Rosa a preferir alimentos líquidos, pouco nutritivos. A bebida e o cigarro também aceleraram o processo que resultou em sua morte precoce.

Tratamentos fracassados

Em 1935, viajou para tratar dos pulmões lesionados na casa de parentes em Belo Horizonte. O tratamento foi muito curto porque logo passou a frequentar as rodas boêmias da capital mineira. O mesmo teria acontecido em Nova Friburgo (RJ), para onde, em 1936, também viajou com o objetivo de se tratar. Barra do Piraí, no Estado do Rio, foi outro destino para tratamento, mas já era tarde.

História do sucesso

O samba "Com que Roupa?" não foi criado pelo fato de que a mãe de Noel, certa vez, escondeu sua roupa para que não saísse em busca de farras. O parceiro e primeiro biógrafo Almirante desmentiu tal lenda anos mais tarde. Verdade foi que a composição tinha os primeiros acordes muito parecidos aos do Hino Nacional Brasileiro, problema detectado pelo maestro Homero Dornelas e prontamente modificada pelo autor.

Contra a malandragem

Em 1933, Noel começou uma polêmica com o compositor Wilson Batista, quando este criou o samba Lenço no Pescoço, que faz apologia à malandragem. Num "duelo" de composições", Noel compôs "Feitiço da Vila" para rebater "Lenço no Pescoço". Seguiram-se um novo samba de Batista e outro de Noel, a música "Palpite Infeliz". Wilson Batista respondeu com duas novas músicas: Frankstein da Vila", no qual destaca a deficiência física de Noel, e "Terra de Cego", que terminaram sem resposta. Quando se conheceram pessoalmente, depois do ocorrido, refizeram este último samba, nascendo a canção "Deixa de Ser Convencida".