A Coleção

14 - Herivelto Martins

14 - Herivelto Martins

Informações Técnicas:

  • Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
  • Páginas: 64 páginas
  • Capa: dura e revestida em papel couchê
  • CD: 14 faixas por CD

Veja o repertório:

  1. AVE MARIA NO MORRO - Dalva de Oliveira (1961)
  2. IZAURA - Demonios da Garoa (1965)
  3. NEGA MANHOSA - Nelson Gonçalves (1957)
  4. SEGREDO - Dalva de Oliveira (1947)
  5. NEGRO TELEFONE - Elza Soares (1967)
  6. CAMISOLA DO DIA - Nelson Gonçalves (1957)
  7. A BAHIA TE ESPERA - Dalva de Oliveira (1963)
  8. CABELOS BRANCOS - Silvio Caldas (1958)
  9. CAMINHEMOS - Nelson Gonçalves (1956)
  10. CARLOS GARDEL - Nelson Gonçalves (1954)
  11. DOIS CORAÇÕES - Francisco Alves e Dalva de Oliveira (1942)
  12. EDREDOM VERMELHO - Isaura Garcia & Walter Wanderley (1960)
  13. BOM DIA - Dalva de Oliveira (1968)
  14. PENSANDO EM TI - Nelson Gonçalves e Angela Maria (1984)

Incentivado pelo pai desde criança a investir em sua veia artística, Herivelto de Oliveira Martins aceitou o desafio. Passou pelo teatro, pelo circo e se encontrou na música. O compositor de duas centenas de canções, com destaque para o samba, certa vez declarou que ele mesmo se impressionava com sua facilidade para escrever músicas. Nascido no distrito de Rodeio, hoje município Engenheiro Paulo de Frontin, no Estado do Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1912, Herivelto Martins começou a compor aos nove anos, quando já morava em Barra do Piraí. Criou um samba, "Nunca Mais", que não chegou a ser gravado.

A Sociedade Dramática Dançante Carnavalesca Florescente de Barra do Piraí, criada e mantida pelo pai, o agente ferroviário Félix Bueno Martins, acabou dando prejuízo. A mãe, dona Carlota de Oliveira, costurava pra fora e vendia doces com a ajuda dos quatro filhos Hedelacy, Hedenir, Holdira e Herivelto. A casa foi hipotecada e a família se mudou para a periferia da pequena cidade. Lá, quando trabalhava numa loja de móveis fazendo serviços burocráticos, o adolescente Herivelto conheceu os artistas circenses Zeca Lima e Colosso. Não deu outra. Entrou para o circo e excursionou por cidades próximas, até ser parado pela Polícia, que procurava Colosso. Ainda menor de idade, voltou pra casa. O pai acabou sendo transferido para São Paulo em 1930 e, no ano seguinte, então com 19 anos, decidiu ir tentar a vida na capital do Rio de Janeiro, onde seu irmão Hedelacy já morava.

Na cidade que reunia os maiores músicos e sambistas brasileiros da época, Herivelto se encontrou na música. Trabalhando numa barbearia no morro de São Carlos, teve a oportunidade de conhecer os sambistas do Estácio. O compositor José Luís Costa, o Príncipe Pretinho, o apresentou ao cantor e compositor J. B. Carvalho, do Conjunto Tupi, que logo o convidou para integrar o grupo como corista. O Conjunto foi responsável por sua primeira música gravada, a marcha "Da Cor do Meu Violão", em 1932. Herivelto foi um dos responsáveis por trazer o samba do morro para a cidade.

Foi em 1934 que Herivelto conheceu Francisco Sena, aquele veio a ser seu parceiro na dupla "O Preto e O Branco", criada depois que os dois passaram a se apresentar no Teatro Odeon. O nome da dupla, dado pelo empresário Vicente Marzulo, inspirou o compositor a escrever a música "Preto e Branco". A dupla gravou seu primeiro disco com mais uma música de Herivelto "Quatro Horas". Nesse mesmo ano, o cantor Carlos Galhardo gravou "A Vida É Boa" e Mário Reis "Mais uma Estrela". Mas foi com Aracy de Almeida, que gravou "Pedindo a São João", e Sílvio Caldas, com "Samaritana", que suas composições começaram a fazer sucesso, em 1935.

Com a morte de Francisco Sena, em 1935, a dupla foi desfeita e o compositor começou a trabalhar sozinho, fazendo apresentações no Teatro Pátria como o palhaço Zé Catinga. Lá conheceu, em 1936, aquela que viria a ser uma de suas principais intérpretes, a cantora Dalva de Oliveira, com quem se casou anos depois. Na mesma época retomou a dupla O Preto e O Branco com Nilo Chagas e passou a cantar junto com Dalva. Lançaram o disco com as músicas "Itaquari" e "Ceci e Peri", ainda com título Dalva de Oliveira e a Dupla Preto e Branco. O sucesso do disco os levou ao programa de César Ladeira, na Rádio Mayrink Veiga. O locutor anunciou "vamos ouvir agora esse conjunto vocal, Dalva de Oliveira e a Dupla Preto e Branco, o trio de ouro. A partir daí, nasceu o primeiro trio do mundo composto por duas vozes masculinas e uma feminina.

O Trio de Ouro começou a fazer apresentações no Cassino da Urca em 1939 e lá ficou até 1946, quando o presidente Dutra proibiu os jogos no Brasil. Foi na voz do grupo que Herivelto gravou o que seria seu maior sucesso "Ave Maria no Morro", em 1942. A canção, fruto de sua vivência nos morros do Rio, se tornou uma das mais gravadas da MPB, se transformando, mesmo tendo sido contestada pelo cardeal Sebastião Leme, a partir dos anos 60, em repertório de igrejas no Brasil e até na Europa. Um dos seus principais parceiros, seu compadre Benedito Lacerda, não acreditou que a música fizesse sucesso.

No auge da fama, no fim da década de 40 o Trio foi desfeito com a separação de Herivelto e Dalva. Na época, o fim do casamento se transformou num duelo musical em discos e no rádio, além de ter sido um dos principais temas de fofocas publicadas em jornais e revistas da época. O tal duelo rendeu clássicos do samba canção. De autoria de Herivelto: "Caminho Certo", "Teu Exemplo", "Cabelos Brancos", "Não Tem Mais Jeito", "Teu Travesseiro" e "Perdoar". De compositores como Ataulfo Alves e Marino Pinto, que ficaram do lado de Dalva, sugiram "Errei Sim", "Calúnia", "Mentira de Amor" e "Fim de Comédia". Nessa época, Herivelto selou a parceria com o jornalista David Nasser. A Mangueira também era uma de suas paixões, para quem dedicou várias de suas composições.

Herivelto Martins tentou retomar o Trio de Ouro em 1950, com Nilo Chagas e Noemi Cavalcanti, e depois com Raul Sampaio e Lourdinha Bittencourt, mas o grupo nunca mais foi o mesmo sem Dalva. A nova formação gravou um de seus sucessos, "Negro Telefone", em 1953. Em 1979, o Trio acabou de vez, com a morte de Lourdinha. Durante toda a sua carreira fez parcerias, com destaque para Benedito Lacerda, Marino Pinto, David Nasser e Grande Otelo, com quem compôs "Praça Onze", sucesso no Carnaval de 1942. A carreira do compositor também foi marcada por atuações no cinema, nos filmes dirigidos por Luiz de Barros, até 1958. Nas palavras do estudioso da MPB Ricardo Cravo Albin, Herivelto Martins "representou um retrato muito bem acabado da alma brasileira, participando com qualidade e volúpia na cena artística".

A defesa dos direitos autorais foi uma das bandeiras políticas mais levantadas por Herivelto durante sua carreira. Em 1963, foi eleito presidente do Sindicato dos Compositores e também foi membro da SBACEM (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música). A partir da década 70, passou a dirigir grupos rítmicos de samba, que ele chamava de "Escolas de Samba". Com 80 anos, em 1992, faleceu no Rio de Janeiro, mesmo ano em que teve sua biografia publicada no livro "Herivelto Martins: Uma Escola de Samba", dos autores Jonas Vieira e Natalício Norberto.

Grandes intérpretes da MPB gravaram e continuam gravando suas músicas. A partir do fim da década de 50, Nelson Gonçalves foi um dos seus cantores mais frequentes. Ele gravou o antológico "Atiraste uma Pedra". Pery Ribeiro, seu filho mais velho com Dalva de Oliveira (o mais novo é Ubiratã), também gravou músicas do pai. Maria Bethânia, Doces Bárbaros, Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Martinho da Vila e João Gilberto também estão entre os intérpretes que gravaram clássicos de sua obra. "Herivelto não foi apenas bamba, ele foi 300, parodiando Mário de Andrade", declarou Ricardo Cravo Albin.

Contexto histórico

Herivelto Martins deslanchou sua carreira de mais de 60 anos numa época que o samba de morro começava a descer rumo à cidade, ou seja, às áreas urbanas da então Capital federal. A importância histórica de sua atuação como compositor se deu por ter sido um dos responsáveis, juntamente com Noel Rosa, Ary Barroso e Lamartine Babo, pela consolidação do samba enquanto arte brasileira e genuína representante da música brasileira em todo o mundo.

Com uma carreira extensa e de fértil produção, a arte de Herivelto sobreviveu aos mais diversos contextos - o nacionalismo de Getúlio Vargas, os anos de pesada censura, o desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek, a ditadura militar e abertura política a partir da década de 80. Sobreviveu até à força da igreja que se rebelou contra sua "Ave Maria no Morro". No Governo JK, chegou a ser membro da Comissão de Música do Departamento Artístico do Ministério do Trabalho. Nos anos 60, também passou por problemas de ordem política. O presidente Jânio Quadros extinguiu a Comissão de Música, logo depois reintegrando seus membros com a função de Inspetor do Trabalho.

Nos últimos 20 anos de vida, sua produção artística diminuiu bastante, pois ele se dizia decepcionado com a divulgação insuficiente que os meios de comunicação de massa davam à música brasileira.

Curiosidades

Inovações

Herivelto Martins foi o responsável por transformar o apito em instrumento de samba e organizou um escola de samba estilizada para o rádio brasileiro. Também quando fazia parte do coro do Conjunto Tupi, introduziu o breque nas gravações. O dono da gravadora gostou tanto que, em pouco tempo, Herivelto foi nomeado diretor do coro.

Início difícil

Quando chegou ao Rio de Janeiro, com 1 conto e 200 réis, dividia o quarto com mais seis rapazes, além do irmão Hedelacy. Chegou a vender o relógio Roskoff para sobreviver. Certa vez contou: "Éramos oito naquele quartinho de quatro metros quadrados. Só melhorou com a Revolução de 32: morreram quatro." Nessa época, com dinheiro minguado, comia todos os dias o famoso "Feijão a Camões", no bar do seu Machado. O prato consistia em feijão preto com uma colher de arroz no meio.

Mulheres

Antes de Dalva de Oliveira, casou, no início dos anos 30, com sua primeira mulher, Maria Aparecida Pereira de Mello. Desse casamento, que durou cinco anos, teve dois filhos: Hélcio e Hélio. Conta-se que após a separação, nunca mais falou com Dalva de Oliveira, mas sua terceira esposa, a aeromoça Lurdes Torelly, chegou a ser amiga da ex-mulher. Deste terceiro e último casamento teve mais três filhos: Fernando José, Yaçanã Martins e Herivelto Filho.

Orson Wells

Em 1942, foi designado para acompanhar o cineasta norte-americano Orson Welles, que viajou ao Rio para fazer um filme que nunca foi finalizado. O compositor levou Welles aos mais importantes redutos do samba e da boemia no Rio. O próprio compositor contou que o cineasta só levantava às 2h da tarde por causa das farras.