A Coleção

21 - Ismael Silva

21 - Ismael Silva

Informações Técnicas:

  • Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
  • Páginas: 64 páginas
  • Capa: dura e revestida em papel couchê
  • CD: 14 faixas por CD

Veja o repertório:

  1. SE VOCÊ JURAR - Beth Carvalho (1992)
  2. TRISTEZAS NÃO PAGAM DÍVIDAS - Elizeth Cardoso e Silvio Caldas (1971)
  3. NEM É BOM FALAR - Mário Reis (1971)
  4. O QUE SERÁ DE MIM? - Francisco Alves e Mário Reis (1931)
  5. ANTONICO - Elza Soares (1967)
  6. NINGUÉM TEM QUE ACHAR RUIM - Clara Nunes (1975)
  7. GOSTO, MAS NÃO É MUITO - Francisco Alves (1933)
  8. UMA JURA QUE FIZ - Mário Reis (1932)
  9. CONTRASTES - Jards Macalé (1977)
  10. COM A VIDA QUE PEDISTE A DEUS - Beth Carvalho (1976)
  11. ADEUS - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  12. ME FAZ CARINHOS - Francisco Alves (1928)
  13. PARA ME LIVRAR DO MAL - Francisco Alves (1932)
  14. A RAZÃO DÁ-SE A QUEM TEM - Arnaldo Antunes (2004)

Por seus olhos doces e fala educada, Vinicius de Moraes o apelidou de "São Ismael". Nascido em Jurujuba, em Niterói, Ismael Silva ficou órfão de pai aos três anos tendo que se mudar com sua mãe para o bairro Estácio de Sá. Prodígio, com 15 anos viria a compor o seu primeiro samba "Já Desisti". Ao contrário do que diz o título da canção, Ismael estava apenas começando sua vida como compositor.

Frequentador assíduo do Bar e Café Apolo, começa a se enturmar com grandes sambistas da época e compõe "Me faz carinhos". O samba foi gravado por um pianista conhecido como Cebola e logo caiu nos ouvidos do famoso cantor Francisco Alves. Nessa época, Ismael Silva estava internado e foi o compositor e amigo Bide quem lhe deu a boa notícia.

Francisco Alves estava oferecendo 20 mil réis pela composição. No entanto, Ismael deveria vender não só o samba como também a sua autoria. Na situação em que se encontrava, doente num quarto de hospital, ele aceita a proposta e "Me Faz Carinhos" é lançada com autoria e voz de Francisco Alves.

Após esse episódio, Ismael propõe um acordo ao cantor no qual as próximas composições deveriam levar seu nome e de parceiro da época, Nilton Bastos. Com o negócio fechado, por um longo período a assinatura de Ismael em suas letras começa a ter companhia. Mesmo quando não havia participação de Nilton, o nome de Chico estava presente.

Em 1928, Ismael Silva entra para a história do Carnaval do Rio de Janeiro ao fundar a primeira escola de samba, "Deixa Falar". No primeiro desfile, em 1929, Ismael estava impecável com seu tradicional terno de linho branco puxando a escola pela Praça Onze.

Os anos seguintes foram de muita produtividade. "Não há", "Nem é bom falar" e "Se você jurar", todas em parceria com Bastos, foram lançadas em 1931. Depois, com a morte do parceiro, Ismael é apresentado por Francisco Alves a Noel Rosa. A partir desse encontro, surgem as composições "Para me livrar do mal", "Adeus", "Uma Jura que fiz", entre outras.

Algum tempo depois, Ismael vive o episódio que marcaria o revés de sua carreira. Em 1935, foi preso após se envolver em uma confusão e atirar em um homem. Os tiros foram disparados nas nádegas de um malandro chamado Edu Mortorneiro que havia se engraçado com sua irmã, Orestina. O compositor é condenado a cinco anos de prisão, mas é solto em 1938 por bom comportamento.

Ao sair da prisão, Ismael se sente totalmente perdido. Já sem a companhia de seu parceiro Noel Rosa, que faleceu enquanto o compositor cumpria a pena, decide isolar-se. É somente com "Antonico", composição gravada por Alcides Gerardi, que Ismael volta à cena musical.

A partir daí, começa a frequentar o Zicartola, bar e restaurante, aonde compositores se encontravam, no Rio de Janeiro. Em seguida é chamado para participar do musical "O samba pede passagem", com Araci de Almeida, no Teatro Opinião. Novamente em destaque, em 1973 grava ainda pela RCA o disco "Se você jurar", que apresentava obras do passado e inéditas. Entre elas, "Contrastes, Alegria, Alias e Receio.

Tendo que se apropriar do uso de muletas, em decorrência de suas varizes nas pernas, o compositor passa a diminuir cada vez mais os seus números de shows. Foi então que um ataque cardíaco fulminante tira Ismael Silva de vez da cena da música popular brasileira da época. Em 14 de março de 1978, o compositor veio a falecer.

Contexto Histórico

Na década de 1920, Ismael Silva foi um dos nomes do samba mais importantes surgidos no Estácio, batendo compositores como Cartola e Bide. Suas composições eram as mais tocadas nas rádios da época, na maioria das vezes interpretados por Mário Reis e Francisco Alves.

No começo dos anos 30, foi o responsável por agregar ao samba instrumentos de percussão deixando-o assim mais ritmado e acelerado. Fazendo, literalmente, escola para as futuras Escolas de Samba que surgiriam no Rio de Janeiro.

Como bem definiu Vinicius de Moraes, Ismael foi "um dos três maiores sambistas cariocas de todos os tempos".

Curiosidades

Fãs de Peso

Entre muitos nomes da música popular brasileira que admiravam o trabalho de Ismael, estava o do cantor Chico Buarque. Em 1970, quando ganhou um prêmio em dinheiro do Governo do Estado da Guanabara, o cantor doou o cheque ao compositor. Mesmo passando por dificuldades financeiras, Ismael demorou um bom tempo para descontar o dinheiro. Preferiu exibir para os amigos o gesto de respeito e carinho, mostrando lhes a assinatura de Chico.

Por ti tudo chora

Entre os muitos parceiros musicais que teria ao longo da vida, Nilton Bastos foi o primeiro a dividir com o compositor suas autorias. Após sua morte, aos 32 anos de tuberculose, Ismael compôs o samba "Adeus" em sua homenagem.

Sucesso na voz dos brancos

Francisco Alves era o cantor que se auto-intitulava parceiro e compositor de Ismael, sem ao menos ter escrito um verso ao seu lado. Durante um de seus shows, o público pediu a presença de Ismael no palco. Ao subir, o compositor foi apresentado por Francisco como "este é o Ismael Silva, o preto de alma branca".

Arco-íris no samba

Apesar do assunto não ser abertamente comentado, existiam boatos de que Ismael Silva fosse homossexual. Quando aconteceu o episódio que o levaria para a cadeia, chegaram a dizer que a confusão havia se formado por disputa de mulher. No entanto, essa versão foi logo descartada, pois muitos acreditavam que esta não era a preferência sexual do compositor.

Certa vez, o escritor Luis Antônio Giron, na obra "Mário Reis: o fino do samba", escreveu que "Ismael destacava-se dos outros, pois se vestia melhor, usava jóias e era homossexual assumido". Durante toda sua vida, o único romance do compositor que veio a tona foi com uma passista chamada Diva Lopes Nascimento, em 1936, com quem teve uma filha que nunca assumiu.

Pedido negado

Em 1965, sem dinheiro para pagar o ingresso para ver os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, Ismael escreve ao jornal Correio da Manhã pedindo para que o secretário de turismo lhe desse um ingresso. Sem sucesso. Assim, decepcionado, o compositor escreve para o mesmo jornal afirmando que "é injusto que a criação [escolhas de samba] receba auxílio do governo enquanto o criador cai no esquecimento".

Em 1973, a Secretaria de Turismo resolve conceder dois ingressos a cadeiras cativas. No ano seguinte, para a frustração de Ismael, o compositor foi barrado e impedido de assistir ao desfile. Em 1977, como pedido de desculpas, o compositor recebe os ingressos em sua casa. No entanto, seu lugar na cadeira cativa havia se mudado para as arquibancadas.