A Coleção
11 - Nelson Cavaquinho
Informações Técnicas:
- Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
- Páginas: 64 páginas
- Capa: dura e revestida em papel couchê
- CD: 14 faixas por CD
Veja o repertório:
- A FLOR E O ESPINHO - Elizeth Cardoso e Nelson Cavaquinho (1965)
- DUAS HORAS DA MANHÃ - Paulinho da viola (1972)
- FOLHAS SECAS - Beth Carvalho (1975)
- CAMINHANDO - Nelson Cavaquinho (1973)
- QUANDO EU ME CHAMAR SAUDADE - Nelson Gonçalves (1973)
- MINHA FESTA - Clara Nunes (1973)
- DEPOIS DA VIDA - Paulinho da Viola (1970)
- DEGRAUS DA VIDA - Roberto Silva (1961)
- PALHAÇO - Dalva de Oliveira (1951)
- RUGAS - Cyro Monteiro (1946)
- JUÍZO FINAL - Clara Nunes (1975)
- O BEM E O MAL - Nelson Cavaquinho (1973)
- VOU PARTIR - Elizeth cardoso e Nelson Cavaquinho (1965)
- PODE SORRIR - Nelson Cavaquinho (1973)
Nelson Antônio da Silva - mais tarde Nelson Cavaquinho - deixou para a música popular brasileira centenas de composições que vez ou outra voltam a ser gravadas. Nasceu pobre, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, no dia 28 de outubro de 1911. Filho de Brás Antonio, um tocador de tuba da banda da Polícia Militar, e de Maria Paula, dona-de-casa e lavadeira, ele e sua família passaram muito tempo mudando de casa e fugindo do aluguel, até se fixarem na Gávea, onde tomou contato com músicos de choro.
Aos 18 anos, com os chorões da Gávea, aprendeu a tocar cavaquinho e ganhou o apelido que o fez famoso. O instrumento era emprestado, pois não tinha dinheiro para comprar um. Até que um jardineiro português chamado Ventura lhe deu um cavaquinho de presente. Desse período nasceram os choros "Queda" e "Gargalhada". Foi nesta época, aos 21 anos, que, desempregado, conheceu Alice, com quem casou forçado na Delegacia. Sete anos depois se separaram por causa da boemia desregrada.
Após o casamento, com a ajuda do pai e do sogro, conseguiu um emprego na cavalaria da Polícia Militar. Durante as rondas, conheceu o morro da Mangueira, e passou a conviver com os sambistas Cartola, Carlos Cachaça, Zé da Zilda, entre outros. Entrou para o mundo do samba e trocou o cavaquinho pelo violão. A Mangueira passou a fazer parte de sua vida e de várias de suas composições.
Poucos anos depois saiu da polícia e passou a vender sambas em troca de parcerias por trocados que lhe garantiam a sobrevivência e as farras. São dele pérolas da MPB, como "A Flor e o Espinho", "Palhaço", "Rugas", "Folhas Secas", "Luz Negra", "Pranto de Poeta" e "Degraus da Vida". Muitas delas feitas em parceria com Guilherme de Brito.
A primeira gravação de uma de suas composições ocorreu em 1939, pelo cantor Alcides Gerardi, com "Não Faça Vontade a Ela". Quatro anos mais tarde, o intérprete Cyro Monteiro também passou a gravar as músicas do ainda N. Silva, como "Apresenta-me Àquela Mulher", "Não te Dói a Consciência?", "Aquele Bilhetinho" e "Rugas". Nessa época, Dalva de Oliveira gravou "Palhaço".
A visibilidade de sua arte aumentou quando, no início dos anos 60, começou a se apresentar no Zicartola, casa de shows de Cartola e Dona Zica, no Centro do Rio. "Luz Negra" e "Pranto do Poeta" foram regravadas por Nara Leão. Elizeth Cardoso gravou depois "A Flor e o Espinho" e "Luz Negra", dando início à descoberta da arte de Cavaquinho.
Nesse mesmo período, a cantora alagoana Thelma Soares gravou um disco só com suas composições, no qual Cavaquinho cantou três faixas. Em 1968, participou do disco "Fala Mangueira", ao lado de Cartola, Clementina de Jesus, Carlos Cachaça e Odete Amaral.
O primeiro LP individual, "Depoimento de Poeta" só veio no ano de 1970. Em seguida, em 1972 e 1973 gravou mais dois discos "Série Documento" e "Nelson Cavaquinho". Cantores da MPB, a partir dessa época, passaram a redescobrir o artista. Destaque para Paulinho da Viola, Clara Nunes, Elis Regina, Lenny Andrade e Chico Buarque. Uma grande divulgadora de sua obra é a cantora Beth Carvalho.
O reconhecimento musical trouxe para Nelson Cavaquinho uma vida mais tranquila. Ele comprou uma casa no bairro de Vila Esperança e se casou com Durvalina, 30 anos mais moça, que o levou a parar de beber e de fumar nos últimos anos de sua vida. Em 1986, Nelson Cavaquinho morreu no Rio de Janeiro vítima de um efisema pulmonar.
Contexto histórico
Contemporâneo de Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Barbo e outros grandes nomes da MPB e do samba, o compositor estava à margem do mundo desses artistas. Na maior parte das vezes preferia a companhia de malandros, prostitutas e mendigos.
Nelson Cavaquinho começou a compor em plena Era de Ouro do rádio. No entanto, sua obra ficou restrita às mesas de bar, vendidas por poucos mil réis em troca de parcerias. Da boemia da Lapa e da Gávea, e principalmente no Morro da Mangueira, Cavaquinho recebeu influência em suas composições, com destaque para os sambas.
A Era de Ouro do rádio acabou e, nas décadas de 40 e 50, com o aperto da censura sobre as produções culturais e o surgimento da bossa nova, a obra de Cavaquinho passou despercebida. Foi só a partir da década de 60, com o movimento de resgate do samba tradicional pelos bossa-novistas, em meio aos anos de chumbo da ditadura militar, que o compositor teve o merecido reconhecimento.
Curiosidades
Pacto de compositores
Nelson Cavaquinho e seu mais importante parceiro, Guilherme de Brito, se conheceram na década de 50 e fizeram um pacto de só comporem juntos. Parceria firme de duas personalidades bem diferentes. Nelson era boêmio, daqueles de passar dias na farra. Guilherme era o oposto, calmo e trabalhador regrado, foi funcionário da Casa Edison por 30 anos.
O violão de Nelson
Nelson Cavaquinho tinha uma forma única e inimitável de tocar violão. Usando apenas os dedos polegar e indicador, ele beliscava as cordas do instrumento, produzindo um som completamente diferente do usual.
Histórias da boemia
Durante sua passagem pela Polícia Militar, em uma noite de farra na Mangueira, onde fazia a ronda, Nelson perdeu o próprio cavalo. Ao voltar ao quartel, o cavalo estava lá comendo sua ração. "E não é que o danado tava rindo de mim", contou o compositor. As farras também lhe trouxeram tristezas. Uma vez, depois de passar três dias fora de casa, na década de 40, ao voltar descobriu que sua mãe havia morrido e já tinha sido enterrada.
Amor marginal
Um dos amores de Nelson se chamava Lígia. Era uma sem teto que dormia na Praça Tiradentes, que ele sempre frequentava no Centro do Rio. Os dois bebiam juntos no banco da praça e acabavam dormindo ali mesmo. Nelson tinha o nome Lígia tatuado no ombro direito, motivo do samba "Tatuagem".
Comércio musical
O hábito de vender sambas para sobreviver chegou a desagradar alguns parceiros. Foi o caso de Cartola, que desfez a parceria e manteve a amizade. Outro parceiro, Milton Amaral, contou que uma vez fizeram um samba juntos e, dias depois, quando foi à editora para assinar o contrato, viu que já era o 16º autor da música. Ou seja, Nelson já havia vendido o samba pelo menos 14 vezes.