A Coleção

3 - Cartola

3 - Cartola

Informações Técnicas:

  • Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
  • Páginas: 64 páginas
  • Capa: dura e revestida em papel couchê
  • CD: 14 faixas por CD

Veja o repertório:

  1. DISFARÇA E CHORA - Cartola (1974)
  2. SIM - Elizeth Cardoso (1965)
  3. ACONTECE - Paulinho da Viola (1972)
  4. ALVORADA - Clara Nunes (1972)
  5. AMOR PROIBIDO - Paulinho da Viola (1968)
  6. O MUNDO É UM MOINHO - Beth Carvalho (1977)
  7. SILÊNCIO DE UM CIPESTRE - Cartola (1979)
  8. PEITO VAZIO - Cartola (1976)
  9. AS ROSAS NÃO FALAM - Nelson Gonçalves e Raphael Rabello (1990)
  10. CORDAS DE AÇO - Gal Costa (1992)
  11. A CANÇÃO QUE CHEGOU - Cartola (1977)
  12. AUTONOMIA - Cartola (1977)
  13. QUEM ME VÊ SORRINDO - Cartola (1974)
  14. NÃO QUERO MAIS AMAR NINGUÉM - Paulinho da Viola (1973)

Amante do Carnaval, Cartola se tornou um mito do samba e da MPB Com a morte do avô, o menino Angenor de Oliveira viu sua vida virar de ponta-cabeça. Nascido no Catete, no Rio de Janeiro em 1908 e morando em Laranjeiras, o terceiro de uma família de 10 irmãos foi obrigado pelo pai a começar a trabalhar cedo, aos 11 anos, tão logo mudou-se para o morro da Mangueira.

Aos 15 anos, trabalhando em uma gráfica passou em frente a uma construção. Viu pedreiros assoviando para as garotas e às vezes se dando bem. Pensou: "isso que é emprego". Passou a trabalhar na obra, como servente. Para que o cimento não caísse em seu cabelo começou a usar um chapéu coco, ao qual tinha grande apreço. Surgiu daí o apelido que o imortalizou, Cartola. Foi nessa época que a mãe morreu, fato que contribuiu para que largasse os estudos, tendo concluído a quarta série do que hoje equivale ao Ensino Fundamental. Após uma briga com o pai, acabou expulso de casa. Sem ter para onde ir, farreava ao longo do dia e a noite dormia no trem, viajando entre a Central do Brasil e a Dona Clara.

Quando voltou, o pai havia saído de casa. Caiu na vida. O jovem rapaz frequentava a zona de meretrício, quedou-se doente. Teve gonorreia, cancro duro e cancro mole. Deolinda da Conceição, 25 anos, sua vizinha 8 anos mais velha e casada, começou a cuidar dele. Limpava o barraco onde morava e fazia-lhe comida. A mulher se apaixonou e acabou abandonando o marido.

Apreciador de ranchos - antigos blocos de carnaval - quando atingiu a maioridade era considerado o melhor pedreiro do morro. Apesar disso, não era chegado ao trabalho. Ficava nas esquinas, bebendo, tocando violão ou fazendo samba. No final dos anos 20, começou a montar um bloco carnavalesco. Em 1928, foi um dos sete fundadores da Mangueira, escola de samba que desfilaria pela primeira vez no ano seguinte.

Foi Cartola quem a nomeou como Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. "Eu resolvi chamar de Estação Primeira porque era a primeira estação de trem, a partir da Central do Brasil, onde havia samba", declarou. Quando começou a tocar os primeiros sambas, este ritmo musical era visto como coisa de malandro e marginal. O primeiro que compôs foi "Chega de Demanda", uma espécie de proposta para que os blocos da Mangueira se unissem em uma agremiação maior. Já o provável segundo foi feito para disputar um concurso de samba da cidade. São as músicas "Beijos" e "Eu quero nota".

Em 1931, Cartola vende seu primeiro samba, por 300 mil réis, para Mário Reis. A música "Infeliz sorte" foi gravada por Francisco Alves. Em seguida, com Chico Alves, gravou "Não faz, amor", "Tenho um novo amor", "Divina dama", "Diz qual foi o mal que eu te fiz". Naquela época, um chapéu de palha custava sete mil-réis.

Em um concurso realizado em 1935 por um jornal carioca, onde os leitores deveriam votar em um compositor por meio de um cupom impresso no jornal, Cartola recebeu 2 únicos votos, de seu amigo Noel Rosa. Paulo da Portela foi o grande vencedor. A Mangueira só não apoiou Cartola porque estava em crise, com a doença e morte de Saturnino Gonçalves.

No entanto, dois anos depois Cartola foi aclamado e ganhou uma medalha de ouro em um concurso de compositores. O evento foi promovido pelo Departamento de Turismo da Prefeitura do Rio de Janeiro. As músicas "Partiu", uma das preferidas do maestro Heitor Villa Lobos, e "Sei Chorar" são as responsáveis por este título.

Ao longo de 1940, Cartola chegou a participar durante três meses do programa "A voz do morro", transmitido pela Rádio Cruzeiro do Sul. Junto com o amigo Paulo da Portela, que depois iria para a Mangueira, cantava músicas próprias e de outros compositores.

A partir de 1941, o compositor passou por uma série de reveses em sua vida e carreira. De 41 a 47 só a Portela ganhou os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. O período ficou conhecido como "7 anos de Glória". Exceto em 1942, quando ficou em 3º lugar, em todos esses anos a Mangueira conquistou a vice-liderança.

Em 1946, aos 38 anos, Cartola foi acometido por meningite. Curou-se no ano seguinte. A recuperação foi tema da música "Grande Deus". Logo depois de ter melhorado da doença, sua esposa, Deolinda, morre. No ano em que a escola de samba Império Serrano estreou e ganhou o Carnaval (1948), a Mangueira ficou em 4º lugar. Foi a última vez que Cartola puxou um samba de sua autoria durante um desfile. Sem a mulher e sem a escola, o compositor "some". Envolve-se com uma mulher chamada "Donária".

O músico escondeu-se em Nilópolis e em Caxias com Donária. Depois que chegou ao fim, este relacionamento foi relembrado na canção "Tive, sim", dedicada a Eusébia Silva do Nascimento, a Dona Zica da Mangueira, sua segunda mulher, com quem casou-se em 1964.

O casal se conhecia desde a infância, mas quis o destino que Zica fosse cunhada do grande amigo e parceiro de Cartola, Carlos Cachaça. Ambos se reencontraram e Zica deu muita força para que o cantor desse uma nova guinada em sua vida.

Neste tempo em que ficou desaparecido, Cartola chegou a ser dado como morto. Foi encontrado trabalhando em uma garagem em Ipanema, onde lavava 11 carros por noite, apesar da idade já avançada.

Após ter sido redescoberto por Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, voltou a se apresentar, cantar em programas de rádio, e restaurantes. No final dos anos 50, com a proximidade das eleições foi convidado a ser cabo eleitoral. Conseguiu empregos em repartições públicas e, nessa fase, participou do filme "Orfeu do Carnaval". Zica e Cartola aparecem como figurantes, na cena do casamento de Orfeu e Eurídice. São os padrinhos dos protagonistas.

Cartola foi se restabelecendo, contando com o apoio de Zica e amigos. Em meados dos anos 60, o casal administrou um influente restaurante, que funcionou como ponto de encontro da cena do samba carioca, o Zicartola. O empreendimento durou três anos, até passar para as mãos de João de Barro, mas Carlota e Zica saíram da experiência, tão pobres quanto entraram.

Apesar de seu sucesso - nos anos 30 era chamado de "mito" pela imprensa e nos anos 70 de "mito vivo da música popular brasileira" - Cartola não ganhou muito dinheiro em vida. Foi, isso sim, bastante ativo e trabalhador. Seu primeiro LP foi gravado entre os meses de fevereiro e março de 1974, aos 65 anos, após muita insistência por parte do compositor.

"Mesmo depois de gravado eu não acreditava. Precisei ter o disco na mão. Precisei ver ele sendo vendido, nas lojas pra acreditar. E me senti muito emocionado, quando ouvi a minha voz no disco. Eu já tinha até pensado que ia morrer sem gravar um disco. Tava até perdendo a vontade de compor, vendo que tanta gente gravava e só não chegava a minha vez. Quando o disco saiu, voltei a fazer música correndo", declarou em entrevista ao jornal carioca O Globo.

Em abril de 1976 foi lançado o seu segundo disco, que trouxe um de seus maiores sucessos, "As rosas não falam". A canção foi um "presente de aniversário" que deu a si mesmo, uma vez que a compôs a 3 ou 4 dias de completar 67 anos. A música também chegou a ser tema de novela da Rede Globo.

Com o sucesso de seus LPs, Cartola enfrentou uma sequência de shows por diversas cidades brasileiras. Manteve o ritmo de trabalho quase até o final de sua vida. Dois ou três meses antes de morrer, gravou sua última música, a faixa "Eu sei", de um disco de Alcione.

Faleceu aos 72 anos, doente em uma cama de hospital. No final da vida conseguiu construir uma casa que serviu de residência para sua filha adotiva e outros familiares. Cartola morreu em 30 de novembro de 1980, em decorrência de um câncer. No dia seguinte, seu corpo foi velado na quadra da Mangueira, ao som de "As rosas não falam".

Contexto histórico

Cartola nasceu em 11 de outubro de 1908, mesmo ano em que se comemorou o centenário da vinda da família real portuguesa ao Brasil. O nascimento do compositor deu-se pouco depois da morte do maior escritor brasileiro de todos os tempos, Machado de Assis.

Aos 11 anos, quando se mudou para a Mangueira, o morro estava em formação, com apenas 50 barracos naquela época.

A década de 30 foi uma das mais importantes para a carreira de Cartola. Foi chamado de "mito" pela imprensa da época. Passado os anos 70, ganhou a alcunha de "mito vivo da MPB". Em 1935, o compositor destacava-se como mestre de harmonia da escola de samba Mangueira. Naquele ano, a elite passou a reconhecer as escolas de samba, incluídas no programa oficial do carnaval por iniciativa do prefeito Pedro Ernesto Batista.

No começo da 2ª Guerra Mundial, em 1939, Cartola compõe sambas de inspiração patriota como "Interpretação". Em parceria com Carlos Cachaça compõe "Nazista, quem és?".

O maestro britânico Leopold Stokowski vem ao Brasil e entra em contato com o maestro Heitor Villa Lobos, devido a seu vasto conhecimento de música brasileira. Villa Lobos então reúne artistas como Pixinguinha, Jararaca e Ratinha, Janir Martins e Cartola, que conheceu em uma festa nos anos 30.

Na ocasião do encontro entre o maestro polonês e os artistas brasileiros, foram gravadas 40 músicas dos vários artistas. Cartola teve quatro de suas composições gravadas. "Meu amor", "Primeiro amor" (com Aluísio Dias), "Tristeza" (com Orlando Batista" e "Quem me vê sorrir" (com Carlos Cachaça), sendo que apenas esta última entrou para o LP.

Curiosidades

Carnavalesco

Um dos fundadores da escola de samba Mangueira, a ligação de Cartola com o Carnaval pode ter vindo antes do berço, já na gestação. Passados os festejos daquele ano, sua mãe Aída Gomes de Oliveira descobriu que estava grávida. Ainda garoto, Angenor frequentava com o avô os ranchos, espécie de blocos carnavalescos do começo do século 20.

Literatura

Quando sua carreira como compositor e violonista começava a deslanchar, por volta de 1934, Cartola, cujas letras ficavam ótimas quando compunha em parceria com Carlos Cachaça, percebeu que precisava aprimorar a letra de suas músicas. Passou a ler poemas e romances; teve influência de Castro Alves e Gonçalves Dias. Leu Olavo Bilac e um pouco de Camões.

Vida dura

Apesar de ser interpretado por nomes de peso, como Carmem Miranda e ter vendido algumas de suas composições, Cartola não acumulou riquezas em vida. Após ganhar o concurso de compositores organizado pelo departamento de turismo do Rio de Janeiro, empenhou na Caixa Econômica a medalha de ouro que conquistou, pra aliviar as agruras econômicas da família.

Vícios

Em entrevista ao Jornal Última Hora, Cartola declarou que seus vícios eram "fumar, beber, tocar violão e correr atrás de mulher". Preferia as mulheres mais velhas "pra evitar filho e porque tem mais juízo". Boêmio, chegava a beber 2 litros de cachaça por dia.

Angenor ou Agenor?

Até os 55 anos de idade, Cartola acreditava se chamar Agenor. Foi em 1964, quando decidiu casar-se com Dona Zica para oficializar a relação de 12 anos, que descobriu em sua certidão de nascimento que seu nome de registro era Angenor. O nome em comum fez com que mais tarde o sambista fosse uma das influências de Cazuza, líder do Barão Vermelho, batizado como Agenor.