A Coleção

25 - Sinhô

25 - Sinhô

Informações Técnicas:

  • Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
  • Páginas: 64 páginas
  • Capa: dura e revestida em papel couchê
  • CD: 14 faixas por CD

Veja o repertório:

  1. A FAVELA VAI ABAIXO - Francisco Alves (1928)
  2. BURUCUNTUM - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  3. SABIÁ - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  4. GOSTO QUE ME ENROSCO - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  5. QUE VALE A NOTA SEM O CARINHO DA MULHER? - Mário Reis (1960)
  6. AMAR A UMA SÓ MULHER - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  7. O PÉ DE ANJO - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  8. JURA - Aracy Cortes (1928)
  9. BEM-TE-VI - Gastão Formente (1928)
  10. FALA MEU LOURO - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  11. NÃO QUERO SABER MAIS DELA - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  12. MAL DE AMOR - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  13. BURRO DE CARGA - Lira Carioca, Clara Sandroni e Marcos Sacramento (1997)
  14. ORA VEJAM SÓ - Francisco Alves (1927)

A ascensão do samba na música popular brasileira, a partir da década de 20, teve em José Barbosa da Silva um dos seus pilares. Sinhô, como ficou conhecido, nasceu no dia 08 de setembro de 1888, na rua Riachuelo, Centro do Rio. Por incentivo do pai, o pintor e decorador de paredes Ernesto Barbosa da Silva, aprendeu a tocar violão, flauta, cavaquinho e piano. Dedicou-se a este último, tirando dele o sustento da família - esposa e três filhos. De dia, executava partituras na Casa Beethoven e à noite tocava onde o chamassem. Em apenas 12 anos de carreira como compositor, deixou uma obra de aproximadamente 150 músicas. Seu maior sucesso foi o samba "Jura", de 1929.

A primeira composição, "Quem São Eles", nasceu em 1918, fruto de uma polêmica com os sambistas Hilário Jovino, Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos), Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho) e China (Otávio Viana), que frequentavam junto com ele a casa da Tia Ciata (Hilária Batista de Almeida) para rodas de samba. "Pelo Telefone", considerado o primeiro samba oficialmente registrado, na época por Donga, teve a autoria reclamada por Sinhô. Daí surgiu um duelo musical: "Fica Calmo que Aparece", de Donga; "Não És Tão Falado Assim", de Hilário Jovino; e "Já te Digo", de Pixinguinha e China; logo respondido por Sinhô com "Três Macacos no Beco" e "Pé de Anjo".

Anos mais tarde, Sinhô voltou a ser acusado de plágio pelo sambista Heitor dos Prazeres, por causa de "Ora Vejam Só" e "Gosto que Me Enrosco", quando chegou a declarar que "samba é como passarinho, é de quem pegar". Heitor respondeu, em 1927, com dois sambas, que Sinhô tentou impedir que fossem gravados: "Olha Ele, Cuidado" e "Rei dos Meus Sambas".

"Quem São Eles" marcou a incursão musical de Sinhô, em 1919, pelo teatro de revista, compondo músicas para dezenas de montagens. Suas composições também animaram muitos carnavais na década de 20. "Fala Meu Louro" e "Pé de Anjo" fizeram sucesso na voz do cantor estreante Francisco Alves, no Carnaval de 1920. Cada vez mais envolvido com as músicas para o teatro, fez fama e conseguiu agradar a classe média carioca.

Até o fim da vida, em 1930, compôs sambas e marchas que caíram no gosto popular como "Papagaio Louro", "Fala Baixo", "Alivia Estes Olhos", "Canção Roceira", "Custe o que Custar", "Não Posso me Amofinar", "Pé de Pilão", "Meu Bem Não Chora", "Pegue na Cartilha", "Cabeça Inchada", "Macumba Gegê", "Vida Apertada", entre outras.

No ano de 1927, Sinhô passou a tocar na Casa Carlos Wehrs, famosa loja de instrumentos musicais no Centro do Rio. Nessa mesma época já frequentava a casa do escritor Álvaro Moreira, onde fez contatos com pessoas influentes, entre políticos, artistas, jornalistas e intelectuais.

Durante a Noite Luso-Brasileira, realizada em 1927 no Teatro República, o compositor foi aclamado como "Rei do Samba". A homenagem só contribuiu para exacerbar a personalidade vaidosa, sempre contando vantagens e dedicando músicas a pessoas influentes. "Ele era o traço mais expressivo ligando os poetas, os artistas, a sociedade fina e culta às camadas profundas da ralé urbana. Daí a fascinação que despertava em toda a gente quando levado a um salão", afirmou o escritor Manuel Bandeira, em crônica sobre o enterro do compositor, publicada no livro "Os Reis Vagabundos e Mais 50 Crônicas".

Em 1928, começou a dar aulas de violão para o Mário Reis, eleito seu intérprete preferido. As duas músicas do primeiro disco do cantor são de Sinhô, "De que Vale a Nota sem o Carinho da Mulher" e "Carinhos da Vovó". Seu maior sucesso também veio na voz de Mário Reis, em 1929: "Jura". Ainda nesse mesmo ano, se apresentou no Teatro Municipal de São Paulo, cantando "Cansei", seu último grande sucesso.

Pouco menos de um ano depois, aos 42 anos, José Barbosa da Silva morreu vítima de um ataque repentino de Hemoptise, em decorrência da Tuberculose, durante a travessia da barca da Ilha do Governador para o Rio, onde iria participar de mais uma de suas rodas de samba. O estudioso da MPB Ricardo Cravo Albin afirma em artigo publicado no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira: "O nosso Sinhô do samba pode ter sido polêmico e foi. Mas que era um bamba, isso nem se discute".

A crônica do escritor Manuel Bandeira sobre o enterro de Sinhô mostra o quanto o compositor era popular no Rio das primeiras décadas do século XX: "A capelinha branca era muito exígua para conter todos quantos queriam bem ao Sinhô, tudo gente simples, malandros, soldados, marinheiros, donas de rendez-vous baratos, meretrizes, chauffeurs, macumbeiros (lá estava o velho Oxunã da Praça Onze, um preto de dois metros de altura com uma belida num olho), todos os sambistas de fama, os pretinhos dos choros dos botequins das ruas Júlio do Carmo e Benedito Hipólito, mulheres dos morros, baianas de tabuleiro, vendedores de modinhas...".

Nos anos seguintes logo após sua morte, sambas criados por ele continuaram sendo gravados, com destaque para Aracy Cortes, com "Mal de Amor"; e Carmen Miranda, com "Feitiço Gorado". Na década de 60, o cantor Gilberto Alves resgatou três sambas de Sinhô: "A Favela Vai Abaixo", "Amar a uma Só Mulher" e "Gosto que Me Enrosco". Vinte anos depois, a cantora Marlene estreou o show "Praça XI dos Bambas", interpretando músicas de sua autoria.

Contexto histórico

José Barbosa da Silva nasceu no ano em que o Brasil, oficialmente, acabou com o regime de escravidão. Também já cresceu na era republicana. Dois acontecimentos políticos e sociais que, sem dúvidas, impulsionaram a consolidação da música brasileira. Até os primeiros anos do século XX, o samba permanecia restrito às camadas populares, às áreas pobres do Rio.

Nomes como Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga foram os primeiros responsáveis pelo surgimento dos gêneros populares e nacionais precursores do samba: o tango brasileiro e o choro. Anos depois, Sinhô, já na segunda década do século XX, se tornou um dos criadores e divulgadores do gênero nascido da mistura com a música tocada pelos migrantes afro-baianos que ocuparam o Rio. Participando dessas rodas de samba, que ainda cultivam as características lúdico-religiosas dos descendentes de negros africanos, Sinhô buscou inspiração para compor muitos de seus sambas.

O trânsito que o compositor tinha nas altas rodas da sociedade carioca também foi de muita utilidade para popularizar o samba entre as pessoas que ainda mantinham na música européia suas referências. Com a marcha "Fala Baixo", de 1921, chegou a incomodar o presidente Artur Bernardes, por mencionar o apelido do governante, "Rolinha", dado pelos jornais da época. Precisou se esconder para não ser preso. Em outra de suas composições, "A Favela Vai Abaixo", de 1927, criticou o plano do prefeito Prado Júnior de acabar com o morro da Favela, no Centro do Rio. Chegou a interceder junto a um ministro a quem tinha acesso para impedir tal ação.

Sinhô morreu de forma precoce aos 42 anos de idade, em 1930, e mesmo sem a força de divulgação do rádio, que começava a se popularizar nos lares, abriu caminho para os sambistas que sugiram nas décadas de 30 e 40 e consolidaram o samba na cultura brasileira.

Curiosidades

Pianista a todas hora

Sinhô ficou viúvo jovem, apenas com 26 anos. Com três filhos para criar, trabalhava demonstrando partituras ao piano na Casa Beethoven durante o dia e se apresentava em bares, prostíbulos, boites, clubes da alta sociedade e até em acampamentos de ciganos durante a noite. Um desses locais era o clube de dança Kananga do Japão - título de novela na extinta TV Manchete, na década de 80.

Direitos autorais

Apesar das polêmicas envolvendo plágios, o compositor foi um dos primeiros a se preocupar com a defesa de seus direitos autorais. Mandou fazer um carimbo para identificar as partituras de suas músicas e os selos dos discos que continham composições de sua autoria eram assinados por ele. Sinhô também sabia se divulgar. Costumava pagar músicos de bailes para tocar somente suas músicas.

Dificuldades financeiras

Em sua curta vida, teve muitas mulheres, mas, em 1920, casou com Nair Moreira, com que viveu até falecer. Deixou a viúva em condições financeiras ruins. O professor de música e amigo Augusto Vasseur recolheu contribuições para fazer o enterro de Sinhô, totalizando perto de 3 contos de réis. Por causa das dificuldades, Nair chegou a rifar o violão do marido e queimou todo o arquivo que o compositor mantinha em sua casa na Ilha do Governador, incluindo fotos e músicas, algumas inéditas.

Pouca formação

A pouca formação musical, o que o impedia de ler partituras, rendeu uma história contada pelo músico e escritor Almirante. Depois de tocar piano numa festa em Botafogo, uma convidada lhe entregou uma partitura para que a executasse. Era "Elégie", de Massenet (Jules Massenet, compositor francês). Sinhô ficou sem graça, mas não se fez de rogado e respondeu: "Sinto muito, senhorita, mas não posso executar essa música. Não me dou com esse autor".

Vozes masculinas

A maior parte da discografia que conta com as composições de Sinhô foi registrada por vozes masculinas. Poucas mulheres cantaram e gravaram suas músicas. Algumas poucas exceções foram duas sobrinhas do cantor Francisco Alves, que o acompanharam nas gravações, Aracy Cortes, Rosa Negra, Carmen Miranda e, muitos anos depois, Marlene.