A Coleção

20 - Ernesto Nazareth

20 - Ernesto Nazareth

Informações Técnicas:

  • Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
  • Páginas: 64 páginas
  • Capa: dura e revestida em papel couchê
  • CD: 14 faixas por CD

Veja o repertório:

  1. ODEON - Pixinguinha (1971)
  2. APANHEI-TE CAVAQUINHO - Quinteto Villas-Lobos (1977)
  3. BREJEIRO - Quinteto Villa-Lobos (1977)
  4. FACEIRA - Quinteto Villa-Lobos (1977)
  5. PERIGOSO - Garoto (1951)
  6. QUEBRADINHA - Arthur Moreira Lima (1977)
  7. TENEBROSO - Arthur Moreira Lima (1977)
  8. BAMBINO - Arthur Moreira Lima (1977)
  9. FLORAUX - Jacob do Bandolim (1967)
  10. ATLÂNTICO - Jacob do Bandolim (1952)
  11. FIDALGA - Jacob do Bandolim (1967)
  12. SARAMBEQUE - Arthur Moreira Lima (1975)
  13. FAMOSO - Garoto (1950)
  14. O FUTURISTA - Arthur Moreira Lima (1977)

O pianista e compositor Ernesto Júlio de Nazareth deixou, em 54 anos de carreira, uma obra formada por 213 composições, entre choros, polcas, tangos brasileiros, foxtrotes e valsas. Considerado um dos precursores do tango brasileiro e do choro, Nazareth, nascido no Rio, no dia 20 de março de 1863, produziu um trabalho artístico misturando seu conhecimento erudito com a sonoridade da nascente música brasileira.

Sua primeira composição surgiu quando tinha 14 anos de idade, a polca-lundu "Você Bem Sabe", dedicada ao pai, o despachante aduaneiro Vasco Lourenço da Silva Nazareth. Em 1879, veio "Cruz Perigo", outra polca. Teve as primeiras aulas de piano com a mãe, Carolina da Cunha Nazareth; depois com o pianista Arthur Napoleão, que tratou de editar e divulgar a primeira música do aluno, e com o francês Lucien Lambert. "Ele soube captar aquela atmosfera romântica das festinhas burguesas, das passeatas dos seresteiros e dos ranchos carnavalescos", ressaltou o musicólogo Vasco Mariz, em artigo para o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

Fã de Chopin (Fréderic Chopin, pianista e compositor polonês), Ernesto Nazareth utilizou os conhecimentos que já havia adquirido com a música europeia e criou seu primeiro tango brasileiro, "Brejeiro", em 1893. Editado e divulgado pela Casa Vieira Machado, a música se transformou em sucesso, chegando a ser executado no exterior, pela Banda da Guarda Republicana de Paris.

Em 1898, no salão nobre da Intendência da Guerra, executou seu primeiro concerto de piano. A edição do tango "Turuna" se deu em 1899 e, seis anos depois, em 1905, foi feita a primeira gravação de uma obra de Nazareth, pelo cantor Mário Pinheiro. O compositor foi um dos primeiros músicos brasileiros a ter uma canção gravada no país, tendo em vista que as gravações em solo brasileiro só começaram a ser feitas menos de três anos antes, pela Casa Edison, no Rio. Nesta ocasião, "Brejeiro" recebeu letra de Catulo da Paixão Cearense e passou a se chamar "O Sertanejo Enamorado". Os tangos "Escovado", "Favorito" e "Batuque"também foram gravados na primeira década do século. Suas apresentações no Cine Odeon, a partir de 1910, lhe serviram de inspiração para criação do tango "Odeon".

Ao lado de "Brejeiro" e "Odeon", a polca "Apanhei-te, Cavaquinho", composta em 1914, é uma das músicas de Nazareth mais executadas pelo mundo. Quando já gozava de popularidade no país, em 1922, foi o primeiro pianista considerado "popular" a tocar no Instituto Nacional de Música, no Rio, com os tangos "Brejeiro", "Nenê", "Turuna" e "Bambino". Na época, para fazer a apresentação, precisou contar com apoio da polícia, pois houve protestos contra a execução de seus tangos brasileiros num ambiente erudito. A inauguração da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923, também contou com a apresentação do músico.

Em 1926, Nazareth passou alguns meses em São Paulo realizando concertos no Teatro Municipal e no Teatro Cultura Artística. Nessa ocasião, o escritor paulista Mário de Andrade, em conferência na Sociedade Cultura Artística de São Paulo, declarou: "é um compositor brasileiro dotado de uma extraordinária originalidade, porque transita, com fôlego, entre a música popular e erudita, fazendo-lhe a ponte, a união e o enlace". Quando retornou ao Rio, em 1927, já apresentava sinais de surdez.

A década de 30 marcou o fim trágico da carreira de Nazareth. A valsa "Resignação" foi sua última música, em 1930. Dois anos depois, excursionou pelo Sul do país, mas já voltou acometido pelos sinais de loucura que resultaram em sua internação, em 1933. Fugiu da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no dia 1º de fevereiro de 1934, e quatro dias depois foi encontrado afogado numa represa próxima.

Quase 80 após sua morte, as obras de Ernesto Nazareth seguem sendo executadas pelas gerações de músicos que o sucederam, no Brasil e em outros lugares do mundo. Na década de 40, voltou a ser gravado por Ademilde Fonseca, que cantou com letra de Darci de Oliveira "Apanhei-te Cavaquinho". Posteriormente, outros intérpretes e músicos redescobriram o compositor, como Luiz Gonzaga, Pixinguinha, Benedito Lacerda, Jacob do Bandolim e Radamés Gnatalli. As pianistas brasileiras Eudóxia de Barros e, mais recentemente, Maria Teresa Madeira, são duas das principais responsáveis pela execução de suas composições no Brasil.

Maria Teresa afirmou durante um documentário sobre o compositor, exibido no canal STV, em 2004, que o estilo da obra de Ernesto Nazareth "é um popular muito refinado ou um erudito muito popular". No mesmo documentário, Luiz Antônio de Almeida, estudioso da obra de Nazareth, destacou: "eu acho que o legado do Nazareth é levar ao mundo uma arte nobre, uma arte importante e uma arte brasileira".

Contexto histórico

Ernesto Nazareth começou sua carreira de pianista e compositor em meio ao fervilhão político que o Brasil vivia na segunda metade do século XIX. Os movimentos abolicionista e republicano sacudiam a sociedade brasileira na época. Quando a abolição da escravatura foi assinada, em 1888, e a República proclamada, um ano depois, o pianista já havia composto seu primeiro sucesso, o tango "Brejeira".

Não era um tango tradicional, tinha as batidas diferentes e passou a se chamar de tango brasileiro. O compositor também foi um dos precursores do choro, que ganhava os primeiros adeptos ainda nos tempos do Império. As inovações musicais introduzidas por Nazareth, ao lado de outros artistas como Chiquinha Gonzaga e Francisco Joaquim Callado, refletiam o clima revolucionário da época. Introduzir a música brasileira na sociedade que valorizava apenas o que vinha da Europa, como a polca e a mazurca, era um desafio.

Aos poucos, com o início das gravações de discos no Brasil, no começo do século XX, e mais tarde, a partir da década 20, músicos, como Ernesto Nazareth, passaram a ser reconhecidos e a consolidar o espaço que arte musical brasileira passou a ocupar. Abriram caminho para o samba, que encontrou no rádio seu mais importante canal de divulgação na primeira metade do século.

Curiosidades

Vivendo de música

Para se sustentar, Ernesto Nazareth chegou a trabalhar como escriturário do Tesouro Nacional. Lá, não ficou por muito tempo, insistindo em viver apenas da música. Dava aulas de piano, vendia partituras e tocava em todos os lugares que o requisitavam (teatros, cinemas, clubes e até casas de família).

Deficiência e loucura

As perdas da audição e da esposa, a partir do fim da década de 20, foram decisivas para os problemas mentais que passou a ter. A deficiência auditiva já datava da infância, devido a uma queda que sofreu, atingindo a cabeça. Em seus últimos anos, tocava piano com o ouvido bem perto do teclado.

Recordes musicais

Ernesto Nazareth foi o compositor que mais criou tangos brasileiros. É também o segundo compositor erudito brasileiro mais tocado no país e no exterior, só perdendo para o maestro Heitor Villa-Lobos. Ele sempre rejeitou a afirmação de que seus tangos fossem os precursores do maxixe.

Sucesso no exterior

O reconhecimento internacional só veio depois de sua morte. Em 1939, os atores norte-americanos Fred Astaire e Ginger Rogers dançaram "Dengoso", no filme "A História de Irene e Vernon Castle". Em 1948, a polca "Apanhei-te, Cavaquinho" foi incluída na trilha sonora do desenho Melody´s Time, dos estúdios Walt Disney, nos Estados Unidos.