A Coleção

18 - Chiquinha Gonzaga

18 - Chiquinha Gonzaga

Informações Técnicas:

  • Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
  • Páginas: 64 páginas
  • Capa: dura e revestida em papel couchê
  • CD: 14 faixas por CD

Veja o repertório:

  1. ATRAENTE - Pixinguinha e Benedito Lacerda (1950)
  2. LUA BRANCA - Joanna (1999)
  3. CORTA-JACA - Abel Ferreira (1976)
  4. YARA - Clara Sverner (1979)
  5. DAY-BREAK AINDA NÃO MORREU - Clara Sverner (1979)
  6. PLANGENTE - Clara Sverner (1979)
  7. SONHANDO - Clara Sverner (1979)
  8. BIÓNNE - Clara Sverner (1980)
  9. EM GUARDA! - Clara Sverner (1980)
  10. DANÇA BRASILEIRA - Clara Sverner (1980)
  11. AMAPÁ - Paulo Moura e Clara Sverner (1986)
  12. LO T'AMO - Paulo Moura e Clara Sverner (1986)
  13. LAURITA - Clara Sverner (1980)
  14. SULTANA - Choro de Antigamente (1980)

Ser mulher e artista nos século XIX era praticamente inconciliável. Mas Francisca Edwiges Neves Gonzaga, nascida no Rio em 17 de outubro de 1847, nunca se deu por vencida. Viveu muito, 87 anos, deixando um legado de aproximadamente 300 composições e contribuindo para a formação do que é, hoje, a música popular brasileira. Foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil e participou dos movimentos abolicionista e republicano, que mudaram os rumos do país. Foi defensora dos direitos autorais dos compositores, sendo uma das fundadoras da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais).

Aos 11 anos, compôs sua primeira música para uma festa de Natal. Cinco anos depois, casou, por pressão da família - o pai, José Basileu Gonzaga, era militar, e a mãe, Maria Rosa, era filha de uma escrava alforriada - com Jacinto Ribeiro do Amaral, rico proprietário de terras. Não foi possível conciliar o casamento com o piano, pois o marido tinha ciúmes de sua dedicação à música. Entre 1863 e 1868, após ter três filhos, João Gualberto, Maria do Patrocínio e Hilário, abandonou o casamento que a prendia. Enfrentou a família e a sociedade. Pai e mãe a declararam "morta". Levando consigo só o filho mais velho, deixou Maria com os avós, e Hilário com tios do ex-marido.

Sem a pressão familiar, passou a conhecer os músicos populares do Rio da época imperial. O compositor e flautista Joaquim Antônio da Silva Callado, um dos precursores do choro no Brasil, virou seu amigo e parceiro na música. A polca "Querida por Todos" foi dedicada por ele a Chiquinha. As aulas particulares de piano garantiam, com muita dificuldade, o sustento dela e do filho.

Nessa época, se apaixonou pelo engenheiro João Batista de Carvalho Jr., com quem foi morar na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, aproveitando para fugir da hostilidade com que era tratada pela sociedade, por ter abandonado o marido. Voltou ao Rio em 1875 e, em 1876, teve sua quarta filha, Alice. Por causa das traições de João Batista, ela o abandonou, deixando também a filha.

A partir daí, decidiu embarcar de vez no ambiente musical do Rio. Com seu piano, entrou para o grupo "Choro Carioca", do amigo Callado. Juntamente com o maxixe, o choro é apontando por estudiosos como início da nacionalização da música brasileira. O primeiro sucesso veio em 1877 com a polca "Atraente", tendo 15 edições publicadas. "Sultana", outra polca de sua autoria, também fez sucesso em 1878. O grupo de chorões, as aulas de piano, as edições de composições passaram a ser complementadas pelo trabalho de musicar peças para o teatro de revista.

Em 1885, apesar do preconceito de um espetáculo ser musicado e conduzido por uma mulher - duas tentativas suas já haviam sido rejeitadas -, passou atuar como maestrina na peça "A Corte na Roça", de Palhares Ribeiro. Um artigo da época declarou: "Verdadeiro primor de graça, elegância e frescura - uma composição dessa ordem faria a reputação de um compositor em qualquer país que se apresentasse". Apelidada de Offenbach de saias (um referência ao alemão Jacques Offenbach, precursor do teatro musical moderno), ganhou popularidade e respeito no meio artístico e na sociedade carioca.

"A Corte na Roça" foi apenas a primeira de quase 80 produções para o teatro musicado. Nessa mesma época, liderou uma campanha para revitalizar o violão e promoveu reuniões com os violinistas da cidade, culminando com um concerto para 100 violões, promovido por ela no Teatro São Pedro.. Seu choro "Sabiá na Mata" foi composto especialmente para o evento.

Já morando no bairro do Andaraí, onde saía o cordão Rosa de Ouro, recebeu a proposta dos organizadores do grupo para compor um hino que seria cantado no Carnaval. Em 1899, nasceu "Ó Abre Alas", primeira marchinha de Carnaval, cantada até hoje nas festas carnavalescas de todo o País. A autora do livro "Chiquinha Gonzaga", Edinha Diniz, comenta o que "Ó Abre Alas" significa: "a primeira música feita especialmente para a festa, o que não apenas cria um estilo (a marcha rancho), mas também dá origem a uma tradição que se estende por mais de um século". Neste mesmo ano, conheceu aquele que viria a ser seu terceiro e último marido, o português João Batista Fernandes Lage. Devido à diferença de idade - ele era 36 anos mais novo - Chiquinha o apresentava como filho.

Em 1912, a peça "Forrobodó" foi musicada pela maestrina, se transformando em sucesso do teatro de revista. As primeiras gravações de suas composições também datam desse período, com o grupo que levava seu nome.. "Atraente" foi a primeira música gravada. "Chiquinha Gonzaga foi a primeira grande compositora que o Brasil produziu. Sua atividade era extraordinária em todos os setores", afirma Ricardo Cravo Albin, estudioso da MPB.

Outros sucessos vieram no início do século XX, como o tango "Gaúcho" (que ficou conhecido como "Corta-Jaca"). Este foi motivo de polêmica no Rio de janeiro em 1914. A música foi executada pela primeira-dama Nair de Tefé, esposa do presidente Hermes da Fonseca, durante um sarau para a alta sociedade, no Palácio do Catete. O nome de Chiquinha Gonzaga virou tema de notícias de jornal, que criticavam a execução daquele tipo de música em meio às músicas eruditas e europeias. Na primeira década do novo século, ela fez viagens à Europa, passando por Portugal, Itália, Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Bélgica e Escócia. Em Portugal, também regeu orquestras no teatro musicado.

Contexto histórico

Neta de uma escrava alforriada, Chiquinha Gonzaga teve ativa participação no Movimento Abolicionista, que culminou com a libertação dos escravos no Brasil em 1888. Estava ao lado de nomes históricos do movimento, como Paula Nei, Lopes Trovão e José do Patrocínio.

Chiquinha se engajou também no Movimento Republicano, que lutava pela queda da monarquia. Fato conquistado em 1889. Mas logo se decepcionou com o novo governo. Em 1893, durante a Revolta da Armada, sua música "Aperte o Botão" foi considerada ofensiva pelo então presidente Floriano Peixoto. A partitura foi apreendida e ela chegou a receber ordem de prisão, que não se concretizou por ter pessoas influentes na família.

Outra de suas bandeiras foi a defesa dos direitos autorais, sendo uma das pioneiras nessa luta. Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, ela atentou para o problema quando viu suas composições serem reproduzidas na Europa com crédito de um estrangeiro, Fred Figner, que, na época, era proprietário da Casa Edison, no Rio. Fundou a SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) em 1917, entidade que frequentou até o fim da vida.

Curiosidades

Guerra do Paraguai

Jacinto do Amaral, o primeiro marido de Chiquinha Gonzaga, tinha tantos ciúmes da esposa que a obrigou a viajar com ele em seu navio fretado para levar combatentes e armas à Guerra do Paraguai. Longe do piano, Chiquinha decidiu voltar com o filho mais velho e acabar com o casamento. "Pois, senhor meu marido, eu não entendo a vida sem harmonia", disse ao deixá-lo. A viagem também serviu para atiçar seu senso abolicionista. Ela protestava contra o tratamento dado aos negros que eram levados para combater. Estes eram mal tratados e participavam das operações mais perigosas.

Preconceito na música

A atuação de uma mulher na música era tão rejeitada pela sociedade da época que muitas pessoas não acreditavam que as composições de Chiquinha eram realmente feitas por ela. Mesmo declarada "morta" pelos pais, sua vida artística os incomodou pelo resto da vida. Não aceitavam o sobrenome Gonzaga sendo publicado como autor das músicas compostas pela filha.

Relacionamento em segredo

O último marido de Chiquinha passou assinar seu nome como João Gonzaga, pois era apresentado como filho para evitar reações do preconceituosas por causa da diferença de idade. Suas filhas Maria e Alice, que exigiam a ajuda financeira de Chiquinha, chegaram a chantageá-la por causa do relacionamento. Após a morte da compositora, João chegou a conseguir um registro de filho dela com o primeiro marido Jacinto, em 1939.

Polêmica no Palácio

Sobre a execução do "Corta-Jaca" no Palácio do Catete, o senador Rui Barbosa se pronunciou publicamente sobre o caso: "aqueles que deviam dar ao país o exemplo das boas maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o corta-jaca à altura de uma instituição social". A repercussão foi tamanha que o governo do presidente Hermes da Fonseca foi apelidado de "Corta-Jaca".