A Coleção

16 - Paulo Vanzolini

16 - Paulo Vanzolini

Informações Técnicas:

  • Dimensões: 14,4 x 12,9 cm
  • Páginas: 64 páginas
  • Capa: dura e revestida em papel couchê
  • CD: 14 faixas por CD

Veja o repertório:

  1. RONDA - Marcia (1977)
  2. VOLTA POR CIMA - Mauricy Moura (1967)
  3. NAPOLEÃO - Luiz Carlos Paraná (1967)
  4. MULHER QUE NÃO DA SAMBA - Carmen Costa e Paulo Marques (1974)
  5. NA BOCA DA NOITE - Toquinho (1995)
  6. CAPOEIRA DO ARNALDO - Luiz Carlos Paraná (1967)
  7. MARIA QUE NINGUEM QUERIA - Paulo Marques (1974)
  8. CHORAVA NO MEIO DA RUA - Cristina Buarque (1967)
  9. FALTA DE MIM - Carmen Costa (1974)
  10. JUIZO FINAL - Adauto Santos (1967)
  11. AMOR DE TRAPO E FARRAPO - Nelson Gonçalves (1984)
  12. LEILÃO - Luiz Carlos Paraná (1967)
  13. SAMBA ABSTRATO - Carmen Costa (1974)
  14. CARA LIMPA - Paulo marques (1974)

Representante do samba de São Paulo, ao lado de Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini deixou para a música brasileira cerca de 60 composições. Duas delas viraram clássicos do nosso cancioneiro - "Ronda" e "Volta por Cima". Esta última criou a expressão utilizada pelos brasileiros quando querem falar sobre a superação de uma crise, principalmente as amorosa: "levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima".

Em 2003, quando lançou a caixa com quatro CDs "Acerto de Contas", anunciou que havia parado de compor. "Perdi o gosto", disse o sambista e zoólogo - esta última considerada por ele sua verdadeira profissão. Mesmo não estando mais na ativa como sambista, sua contribuição para a música popular brasileira, em cerca de 50 anos como compositor, já valeu a pena.. Como zoologista, também produziu trabalhos de pesquisa na área da herpetologia (com répteis) e foi diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) por 30 anos, de 1963 a 1993. Mas continuou por lá mesmo depois de aposentado.

Hoje com 85 anos, Paulo Emílio Vanzolini nasceu no dia 24 de abril de 1924, em São Paulo, onde se criou. Passou apenas dois anos vivendo no Rio durante a infância, dos quatro aos seis anos, quando o pai, o engenheiro Alberto Vanzolini, participou da construção do Instituto de Educação, no bairro da Tijuca. Com a Revolução de 1930, a família decidiu voltar para São Paulo.

Não tinha nenhuma formação musical. Para compor, Vanzolini cantarolava as letras e os amigos músicos as colocavam em partituras. Na década 40, quando decidiu morar sozinho no Centro de São Paulo e cursava Medicina, fez suas primeiras incursões como compositor. Também chegou a fazer bicos na Rádio América, no programa "Consultório Sentimental", apresentado pela atriz Cacilda Becker, falando sobre receitas para emagrecer.

Mas foi somente em 1951, quando voltou do doutorado em Zoologia, na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que compôs seu primeiro sucesso, "Ronda". Dois anos mais tarde, foi gravado pela cantora Inezita Barroso, mas só veio emplacar na voz de Márcia, na década de 60. Nessa mesma época, trabalhou na produção dos programas musicais da cantora Aracy de Almeida, na TV Record, onde fez seus primeiros contatos com Adoniran Barbosa.

"À noite eu rondo a cidade, a te procurar, sem encontrar". Os primeiros versos de "Ronda" mostram a forma singular de Vanzolini criar suas músicas, retratando fatos do cotidiano que ele observava na metrópole, em especial nas noites de boemia. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ele contou: "Cansei de ver mulher chegar na frente do bar, olhar para dentro como se procurasse alguém e ir embora. Não foi uma só que vi. Escrevi sobre isso". O crítico musical Antônio Cândido afirmou, no encarte do box "Acerto de Contas": ''Como autor de letra e música ele é o oposto da loquacidade, porque não espalha, concentra... tem a capacidade de achados verbais que fazem a palavra render o máximo. Vanzolini é um mestre de muitas faces''.

Em sua lista de composições, além de "Ronda" e "Volta por Cima", esta gravada pela primeira vez em 1962 pelo cantor Noite Ilustrada, figuram clássicos do samba paulista. Por muitos anos, suas músicas eram conhecidas apenas pelos frequentadores do bar Jogral, seu preferido na época, onde dava umas poucas canjas. Foi aí que o proprietário do bar e amigo Luís Carlos Paraná, juntamente com Marcus Pereira, decidiu, em 1967, produzir o disco "Paulo Vanzolini: Onze Sambas e uma Capoeira". Lá começava a despontar sucessos como "Praça Clóvis", "Samba Erudito" e "Capoeira do Arnaldo".

"No Fim Não se Perde Nada", "Noite Longa" e "Boba" foram, em 1969, gravadas por Toquinho, um de seus poucos parceiros nas composições. ao lado Vanzolini também fez parcerias musicais com Eduardo Gudin, Elton Medeiros e Paulinho Nogueira. Na década de 70, Cristina Buarque gravou "Cara Limpa". A gravadora Marcus Pereira lançou, em 1974, o disco "A Música de Paulo Vanzolini", com canções interpretadas por Carmem Costa e Paulo Marquês, entre elas "Mulher Não Dá Samba", "Falta de Mim", "Inveja", "Samba Abstrato", "Sorrisos", "Teima Quem Quer", "Maria que Ninguém Queria", "Menina o que Foi o Baque", "Mulher Toma Juízo" e "Choro das Mulatas". O parceiro Eduardo Gudin gravou, em 1978, os sambas "Mente" e "Longe de Casa".

Foi só em 1981 que Vanzolini lançou seu primeiro disco individual "Paulo Vanzolini por Ele Mesmo", no qual cantou alguns de seus clássicos como "Bandeira de Guerra", "Tempo e Espaço", "Amor de Trapo e Farrapo", "Alberto", "O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma" e "Cravo Branco". No ano passado, o documentário "Um Homem de Moral" foi lançado pelo cineasta Ricardo Dias, enfocando a arte de Vanzolini.

Contexto histórico

As implicações que a política teve na vida do compositor Paulo Vanzolini datam da infância. Aos seis anos, teve que voltar do Rio com a família, que vivia na então Capital federal havia dois anos. O pai, antigetulista, voltou às pressas para São Paulo, com o desencadeamento da Revolução de 1930, quando um golpe de Estado deu a presidência do país a Getúlio Vargas.

Na década de 40, quando entrou para a Faculdade de Medicina, militou no movimento estudantil, enquanto dava seus primeiros passos como compositor. Como o pai, permaneceu antigetulista pelo resto da vida. Nas músicas, que só passaram a ser divulgadas nos anos 60, preferiu retratar, por meio de sambas-canção e ritmos regionalistas, temas do cotidiano de sua São Paulo, dos amores, algumas permeadas pelas impressões populares que coletou durante suas andanças pelo Brasil como zoologista.

Em "Praça Clóvis", ele conta em versos cenas do cotidiano da grande cidade, com batedores de carteira e um amor fracassado. Por sua vez, as dificuldades de um migrante que deixa sua terra para buscar sucesso na cidade grande são retratadas em "Capoeira do Arnaldo".

Na década de 60, chegou a ser perseguido pelo governo militar. Ele mesmo revelou, em entrevista ao O Pasquim 21, que protegeu presos políticos. Uma vez chegou a ser convocado pelo general Golbery do Couto e Silva por causa de suas pesquisas na Amazônia, que estavam sendo publicadas em inglês.. "General, quem não entende inglês, não entende os meus trabalhos em português", disse Vanzolini. Golbery respondeu: "Essa é uma atitude que pode lhe custar caro". Ele retrucou: "Depende". "Depende do quê?", perguntou o general. "Depende de quem durar mais: vocês ou nós", finalizou o cientista-compositor.

Curiosidades

Talento nato

Sobre seu pouco conhecimento musical, ele conta que ao fazer um show com o parceiro Paulinho Nogueira, este virou para a plateia e disse: "Vocês são ótima gente, mas não concordo com vocês baterem palmas para a única pessoa que não sabe a diferença entre tom maior e tom menor". Vanzolini declarou que seu senso melódico foi aprendido ouvindo rádio.

Cotidiano nas músicas

A música "Capoeira do Arnaldo" foi criada por causa de uma provocação do amigo Arnaldo Horta, artista plástico. Ele disse para Vanzolini que o artista plástico argentino, radicado na Bahia, Carybé, havia trazido a capoeira para São Paulo. "Você é um merda, porque esse gringo aí cheio de capoeira e você nunca fez nenhuma", desafiou Horta. O compositor disse: "Amanhã te trago uma". A canção surgiu na noite daquele mesmo dia.

Gravação de sucesso

"Ronda" foi gravada por Inezita Barroso, em 1951, de uma forma curiosa. Ele e a mulher, a cantora Ana Bernardo, acompanhavam Inezita na gravação de seu primeiro disco no Rio, "Moda de Pinga". Ela só tinha música para o lado A e precisava de outra para o lado B, com autorização imediata do compositor. Vanzolini, que estava presente, lhe concedeu "Ronda".

O lado cientista

Paulo Vanzolini é, para muitos, o maior especialista do País num ramo da zoologia, a Herpetologia, que estuda os répteis. Também participou da criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). É co-autor da chamada Teoria dos Refúgios, desenvolvida em suas expedições na Amazônia.